Clarissa Corrêa, redatora publicitária e escritora. Autora do livro de crônicas "Um Pouco
do Resto" e do livro de frases "O amor é poá". Possui um blog desde
2005. Tem uma coluna no site da revista TPM. Faz os mais
variados tipos de freelas. Escreve homenagens, cartas, textos, votos de
casamento, agradecimentos, discursos. E também textos para sites e
freelas de redação publicitária.
Ando um pouco para dentro, não sei se você entende.
Me fechei um pouco,
de tudo. Me abri para mim, me fechei para o resto. Ainda não sei se é
certo ou no que vai dar, mas garanto que estou me descobrindo um pouco.
Não sei se algum dia a gente se descobre completamente, mas por enquanto
vou me divertindo, brigando, fazendo barraco e bafão e vez ou outra
chorando comigo, como se estivesse num Big Brother onde tem eu e uma
câmera me filmando vinte e quatro horas por dia – para que eu assista e
assista e assista, incansavelmente, sem
pause nem
stop.
Estou
admirada e perturbada. Deixei de acreditar em algumas coisas bonitas
que eu acreditava.
Às vezes, tenho medo de endurecer, deixar de ser quem
eu sou, esfriar. Mas não é isso que a vida vai tentando fazer
diariamente com a gente? Nascemos limpos, livres, abertos. Aos poucos,
vamos sujando mãos, cara, alma. Vamos nos prendendo à
status,
valores, ego, mentiras, imagem, grana. Nos fechamos, com medo. Grades,
alarmes, seguranças, proteções, medo do outro, do que a maldade humana é
capaz de fazer.
Sempre achei assim: existe uma coisa mais forte
que cutuca lá dentro e grita na hora do nascimento
essa-pessoa-vai-ser-boa-e-essa-outra-vai-ser-má. É a única explicação
que tenho para definir gente como Anna Carolina Jatobá, Alenxadre
Nardoni e Antonio Nardoni, advogado tributarista e pai desse monstro
horroroso. Me revolto com quem judia de crianças. São frágeis, puras,
indefesas. Quem faz alguma coisa contra uma criança, para mim, merece a
morte. Uma morte lenta, com direito a unhas arrancadas, pênis fatiado,
orelhas decepadas e assim por diante. Essa gente tem que sentir dor, já
que não conseguem sentir amor ou ternura.
Não entendo gente que
não tem amor. Me causa estranheza. Por isso, cada vez mais, eu olho para
dentro. Meu mundo interno é sempre arejado, com flor em vaso, cheiro de
lírio e café passado, gosto assim. Por que, aqui fora, tem tanta
bagunça? Sabe, eu queria acreditar fundo nas pessoas, mas ando com tanto
medo. Depois de algumas experiências e expectativas fraturadas, a gente
se protege. Agora, ando de capacete e joelheira quando saio para dar
uma volta no mundo de fora. O mundo do jeito que é vezenquando me dói.
Percebo
que expectativas fazem a gente se frustrar.
Eu queria não esperar nada,
não planejar coisa alguma, não nutrir aquele sentimento de espera. Quem
tem expectativa espera algo de alguém. E, frequentemente, a gente se
decepciona e tem que enfiar a mágoa no lixo da cozinha, amarrar bem e
colocar na frente de casa, para o lixeiro levar embora. Mas nem sempre o
cheiro a lixo sai de dentro da gente. Fica estragado, feito coisa
vencida.
Expectativa é isso: alguma coisa que venceu por não ter sido
usada. E a gente nada mais tem a fazer, a não ser acender um incenso,
comprar um aromatizador de ambiente ou Bom Ar, para tentar amenizar
aquele odor que dá náusea.
(Clarissa Corrêa)