Eu nem mesmo sei por onde começar. É incrível como um livro pode ser surpreendente e emocionante mesmo quando você já sabe como irá terminar. Às vezes eu acho que por ler tanta ficção, desaprendi a entender e aceitar que nem sempre os finais são felizes.
O diário começa quando Anne está com 13 anos e ainda está em casa. Nele ela conta sobre a escola, a sua família e seus sentimentos. Até que no dia 5 de Julho de 1943, sua irmã – Margot Frank – recebe uma convocação para se apresentar nos campos de trabalhos forçados na Alemanha. Não foi uma surpresa. Há algum tempo os pais de Anne – Otto e Edith Frank – já esperavam por esta carta, afinal a Holanda estava ocupada por Alemães. Por isso já tinham um esconderijo preparado.
Logo no dia seguinte a convocação, a família Frank vai para o Anexo Secreto – o esconderijo – no prédio da empresa onde Otto trabalhava. Uma semana depois, a família Van Daan chega ao Anexo e mais tarde o Sr. Dussel.
Com isso, o diário de Anne começa a descrever a convivência entre os oito moradores do Anexo, as dificuldades em manter pessoas extremamente diferentes juntas e os sentimentos de uma adolescente que deseja ser livre. Conta sobre os seus estudos, que ela mantém mesmo no esconderijo.
A vida no Anexo dura dois anos, com isso é possível acompanhar as mudanças em Anne. No início de seu diário, em 1943, é possível perceber a personalidade forte e a sua determinação. Uma menina que desejava alguém que notasse o seus sentimentos e necessidades.
Já em 1944, Anne muda de atitude contra as críticas que recebe dos moradores do Anexo, principalmente da sua mãe. Ela descreve a mãe em várias ocasiões com muita raiva e remorso.
Em seu último ano no Anexo, Anne amadureceu muito. A sua escrita está melhor, os seus argumentos para descrever o que está acontecendo no esconderijo são claros e bem analisados. Tão diferente da garotinha de dois anos antes. Seu maior sonho é sair do Anexo e ser uma jornalista ou escritora, e publicar o seu diário para que todos pudessem conhecer a sua história.
Quem sabe, talvez nossa religião ensine ao mundo e às pessoas o que é a bondade, e talvez esse seja o único motivo de nosso sofrimento. Nunca poderemos ser apenas holandeses, ou ingleses, ou de qualquer outra nacionalidade, seremos sempre também judeus. E teremos de continuar sendo judeus, mas, afinal, vamos querer ser.
No dia 4 de Agosto de 1944, um carro parou em frente ao prédio onde ficava o Anexo e todos os moradores do prédio foram presos, inclusive os funcionários da empresa que os ajudaram durante os dois anos. A mando dos alemães, cada um foi para um campo de concentração diferente, com exceção de Anne e Margot que permaneceram juntas.
Anne morreu em 1945, no campo de concentração, devido às péssimas condições e uma epidemia de tifo. O seu diário foi devolvido a seu pai, o único sobrevivente dois oito moradores do anexo. Ao perceber a importância do que Anne havia deixado, decidiu seguir o que a filha tinha decidido e autorizou a publicação do diário.
Quantos textos eu já havia lido na escola sobre o nazismo, a segunda guerra, o holocausto, nem me lembro mais. Lembro que todos apenas apontavam os números, descrições das formas desumanas como os judeus foram tratados. Nenhum deles nos faziam sentir o medo e o desespero que era viver em meio a uma guerra, sem saber se no dia seguinte você estaria ali, vivo.
Talvez tenha sido este o motivo de eu ter demorado tanto na leitura deste livro. O Diário de Anne Frank poderia ser apenas o diário de uma garota comum, prestes a entrar na adolescência, se não fosse um relato claro do dia-a-dia de uma família judia em meio a Segunda Guerra Mundial.
Também escolhi falar sobre esse livro, porque enquanto eu lia ouvi muitos comentários de pessoas que sequer sabiam quem foi Anne Frank ou mesmo do que tratava o seu diário. Esta é uma história que precisa ser conhecida.