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[Resenha] História é tudo que me deixou, de Adam Silvera


Griffin tinha certeza que o seu final feliz seria com Theo e acreditava que ele pensava da mesma forma. Não importava que Theo tivesse sido aceito mais cedo na faculdade e deixado Griffin sozinho em Nova Iorque. Não importava que Theo tivesse seguido com a própria vida e começado a namorar Jackson. Muito menos o fato de Griffin ter terminado com Theo antes que ele mudasse para a Califórnia para cursar a faculdade dos seus sonhos. Nada disso faria diferença, porque no final eles estariam juntos novamente. Esse era o plano. Até o acidente.

Theo morreu afogado e Griffin não é capaz de aceitar um mundo sem a sua pessoa favorita. Ele precisa lidar com o luto, com a escola, com a família e amigos, mas não agora. Tudo o que ele precisa é de alguém capaz de entender que voltar a rotina não irá fazer com que a dor no seu peito diminua. Griffin quer alguém que entenda e compartilhe o que ele está sentindo. Mas única pessoa que parece entender é o responsável por acabar com as suas chances de um final feliz com Theo: Jackson.

Este é o momento do fim. Este é o momento em que desistimos de esperar que o tempo se inverta, quando abandonamos a tentativa de encontrar cura para a morte, quando passamos a viver nesse universo sem o Theo, quando dizemos adeus.
Mas eu não posso. É adeus para muitos, mas não para mim. Nunca para mim.

Quando Theo estava vivo, Griffin foi incapaz de se aproximar do novo namorado dele. Jackson era uma ameaça e Griffin não conseguia aceitar que ele pudesse ter superado o amor que eles sentiam. A mudança para Califórnia foi dando novos hábitos para a vida de Theo. Ele já não parecia o mesmo e Jackson era a maior dessas mudanças.

Mas agora o que ele poderia fazer? Seu maior inimigo estava ali sofrendo e por mais que Griffin fosse incapaz de assumir, Jackson sentia a mesma dor que ele. Manter essa rivalidade parece algo sem sentido agora que Theo não está ali. Jackson não é o responsável por ter levado Theo para longe de casa, muito menos por ter feito Theo entrar no mar e se afogar. Talvez ele fosse capaz de preencher os espaços de uma parte da vida de Theo que Griffin não pode acompanhar.

A história não é nada. Ela pode ser reciclada ou jogada fora. Não é o baú de um tesouro sagrado que pensei que seria. Fomos alguma coisa, mas apenas a história não basta para fazer essa coisa viver para sempre. Você não é meu melhor amigo e o amor da minha vida que passei este último mês pranteando e, desde muito antes disso, sentindo sua falta. Não quero mais conversar com você.



A história começa a ser contata em 2016, no dia do velório do Theo. Tudo o que veremos a partir desse ponto será pela perspectiva do Griffin. Desde as descobertas do primeiro amor até dor de ter perdido o amor da sua vida. Griffin é um adolescente descobrindo o mundo, os seus gostos, a sexualidade e lidando com um transtorno obsessivo compulsivo. Os capítulos vão se alternando entre o passado e o presente, mostrando momentos importantes para entender o relacionamento do Theo e o Griffin. Conforme a história avança, é possível perceber o relacionamento visto como lindo e perfeito também carrega algumas falhas. E acredito que esse seja o ponto alto da história. Com o passar dos capítulos, Griffin vai entendendo que a sua pessoa favorita não era perfeita. Ele passa a entender que o Theo tinha seus defeitos e tinha criado novas histórias depois de mudar para a Califórnia. É como se o leitor fosse acompanhando o amadurecimento do personagem e o que custou esse crescimento.

Theo era uma pessoa divertida, decidida, inteligente e apaixonada por quebra-cabeças e Star Wars. Já Griffin é inseguro, apaixonado por Harry Potter e precisa lidar o tempo todo com suas compulsões, como estar sempre do lado esquerdo de alguém ou fazer tudo com números pares. Algo que ele não reconhece como um problema durante boa parte do livro.

Já o Wade é o cara brincalhão, mas que fica na dele durante todo o livro. Conforme a história vai sendo contada ele vai ganhando seu espaço e importância. Assim como Jackson.

A questão é: o amor não faz mais sentido, e sinto que mentiram para mim. O amor não é esse poder supremo que vai fazer com que eu me sinta imbatível e soberano. Se eu amasse você de verdade, eu teria me voltado para Wade? E se eu amasse Wade, teria me voltado para Jackson? Talvez meu impulso autodestrutivo não tenha a ver com trair alguém, mas trair o próprio amor, o maior mentiroso desse universo.

O livro aborda assuntos pesados, mas importantes. Lidar com a morte, com decisões destrutivas e com a culpa nunca é fácil, e o autor soube mostrar todas as situações com muita realidade e sensibilidade. É uma história que toca fundo no coração e nos faz repensar muito nas decisões que tomamos no nosso dia-a-dia, e pesar as consequências do que falamos e fazemos. Não acho que seria capaz de descrever o quanto essa história me tocou, mas é um livro que precisa ser conhecido. É uma história que mostra que a vida não é fácil e não tem a pretensão de ser, mas ela pode ser preenchida com momentos bonitos e felizes.

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