Pular para o conteúdo principal

Postagens

O Exorcismo da Minha Melhor Amiga, Grady Hendrix


O que você faria para livrar a sua melhor amiga de um demônio?

Foi em sua festa de dez anos que Abby ganhou sua primeira melhor amiga. Gretchen foi a única colega de classe a comparecer em sua festa de aniversário. Abby estava quase desistindo quando a garota chegou. Como se tudo se encaixasse, a amizade entre elas cresceu rapidamente.

Seis anos depois, já no ensino médio, Abby e Gretchen fortaleceram ainda mais sua amizade, mas um evento traumático colocará essa amizade em prova. Durante um final de semana com um grupo de amigas, Gretchen pula no lago e desaparece. Enquanto busca pela amiga, Abby acaba parando em uma construção abandonada na floresta que cerca o lago. O lugar parece terrivelmente assustador e a jovem tem a sensação de ser observada, quando algo chama por ela dentro da construção. Apavorada, Abby foge do lugar e vai ao encontro das outras amigas.

Ao nascer do Sol, elas voltam a procurar Gretchen na floresta. Quando estão perto da construção novamente, encontram a garota com medo, sem roupas e desorientada. Ela não consegue explicar o que aconteceu, mas Abby sabe que havia algo naquela floresta na noite anterior e alguma aconteceu com Gretchen. Algo que a garota não quer contar.

Dias após o incidente, Gretchen não é mais a mesma. Ela não toma banho, não parece trocar de roupas e escovar os dentes. Seu rosto, antes bem cuidado, estava oleoso e com espinhas. Ela não participava das aulas como antes e quase não falava. Por mais que Abby insistisse, Gretchen não contava o que estava acontecendo.

Abby começa a investigar para entender o que aconteceu com Gretchen naquela noite que a transformou em alguém totalmente desconhecido para ela. Coisas inexplicáveis acontecem e a única teoria improvável que ainda resta é a de que Gretchen foi possuída por algum demônio. Mas quem acreditaria em Abby? Não importa o que tivesse acontecido, Gretchen era sua melhor amiga e Abby não desistiria dela em hipótese alguma.

Esse livro foi a leitura coletiva do Clube do Livro Sweet Daisy e me surpreendi demais com a história, principalmente por não ser o meu tipo de leitura favorito. Quando vi que tratava-se de um livro de terror, fiquei com um pé atrás e já comecei sem muitas expectativas. De maneira surpreendente, acabei com uma história bem humorada e um terror mais leve do que imaginei.

A história começa trazendo um sentimento de nostalgia ao descrever cenas corriqueiras da década de 80. Abby e Gretchen são pessoas completamente opostas, desde os gostos e atitudes até a classe social. Os pais de Abby tinham bons empregos, mas com os anos perderam tudo. A mãe de Abby mal podia sustentá-los e seu pai não conseguia encontrar um emprego. Enquanto isso, Gretchen morava em uma bela casa, com pais financeiramente estáveis e que controlavam cada passo da filha. Nesse ponto, acho que a história traz, discretamente, críticas às diferenças de classes sociais.

A força da amizade entre as protagonistas, sem sombra de dúvida, é o foco principal da história. Tudo acontece sob o ponto de vista da Abby, então não podemos ver muito sobre os sentimentos da Gretchen, mas fiquei com a impressão da Abby depender muito mais da relação entre elas do que a Gretchen e isso me incomodou um pouco.

O exorcismo da minha melhor amiga” é uma história com dramas adolescentes, na década de 80, com toque de suspense, terror e humor. A história caminha de forma lenta até a metade do livro. Nesse ponto as coisas começam a ganhar forma e prender a atenção do leitor com maior facilidade.

No geral, foi uma leitura que me tirou da zona de conforto e, ao fim, me surpreendeu. Essa pode ser uma boa leitura para quem deseja se aventurar pelo terror, sem grandes sustos, nesse Halloween.








O que vai acontecer com o mundo literário?





No último ano, eu perdi o ânimo ao acompanhar para onde o mundo dos criadores de conteúdo literário estava seguindo. Na verdade, ainda sinto que algo se perdeu depois de tantos anos. Houve uma época em que podíamos compartilhar leituras, falar sobre o que gostávamos ou não gostávamos sem pensar que as outras pessoas deixariam de nos acompanhar. Era uma época em que não havia competições, porque não imaginávamos que iríamos estourar a bolha e atingir um número imenso de leitores através das redes sociais. Nós escrevemos, construímos amizades e conhecemos aqueles criadores que já estavam no mundo literário há muito mais tempo. Foi uma época boa.

Como tudo na vida, esse espaço mudou. Cresceu e deu visibilidade àqueles que imaginavam uma vida trabalhando com livros, trabalhando com o que amavam fazer. E isso foi incrível, foi uma surpresa. Fico imensamente feliz ao ver que blogueiros e youtubers que eu adorava acompanhar, cresceram e continuaram influenciando inúmeros leitores mundo afora. Mesmo os criadores “menores”, que persistiram, continuam brilhando depois de tanto tempo.

Eu sinto falta das contas que não existem mais, de blogs que foram esquecidos e apagados da internet. Eu sinto falta das amizades que decidiram seguir caminhos diferentes e continuaram no mundo literário como leitores. Eu sinto falta das pessoas que iluminavam a internet e faziam desse mundo, muitas vezes, solitário, em um lugar acolhedor. Por inúmeras vezes, o mundo literário foi um refúgio, um lugar que me trazia paz e acalmava a minha mente acelerada. Durante a corrida diária entre os estudos e, mais tarde, o trabalho, esse lugar me levava de volta à zona de conforto.

Depois de doze anos, esse espaço passou a me fazer sentir ansiedade, medo, a necessidade de me encaixar e o sentimento de que não sou suficiente ou adequada para estar aqui. Quando lembro de todos os anos em que esse blog continuou ativo, sinto uma tristeza profunda ao perceber que fui perdendo o brilho, a vontade que me fazia sentar e encarar a tela do computador por horas, apenas para compartilhar a minha vida. Eu costumava ter a sensação de que sempre existiria alguém que se identificaria com o que eu escrevia. Entre as centenas de visitas diárias, eu imaginava um leitor terminando a leitura da minha postagem com o sentimento de pertencimento, de compreensão. Isso era suficiente para fazer com que eu tivesse disposição para sentar e escrever novamente.

Mas o tempo passou. Os blogs foram esquecidos e trocados por páginas onde compartilhamos conteúdos curtos, onde precisamos respeitar os limites de caracteres. Trocamos textos por imagens e vídeos que não expressam tudo o que poderíamos dizer sobre um livro. Tivemos que nos ajustar aos limites de tempo e espaço que as redes sociais nos oferecem. Agora, nós também precisamos nos preocupar em perder o nosso espaço de trabalho, porque uma rede social pode ser banida do dia para noite. Aos poucos as mudanças foram surgindo e, ao invés de nos libertar da bolha em que vivíamos, elas nos jogaram em uma bolha maior. Em uma bolha que está prestes a estourar sem nos dar pistas do que virá em seguida.

Eu sempre defendi a necessidade de mudar, de aceitar que as coisas possuem um ciclo, possuem um início, um meio e um fim. Que tudo se renova. Esse blog é um exemplo do que eu acredito. O blog passou por diversas mudanças enquanto eu procurava me ajustar e entender quem eu era. Todas as vezes em que me senti perdida, eu mudei o layout do blog. Mudei até mesmo o nome para um que representasse as mudanças que ocorreram na minha vida. E está tudo bem, porque, no fim, todas as mudanças foram necessárias e me ajudaram a escolher novos caminhos. Agora, vejo o mundo literário caminhando para um destino ainda mais solitário. Nos perdemos no caminho. Eu sinto que tudo o que levamos mais de uma década para construir está desmoronando. Criamos um lugar onde todos deveriam se sentir acolhidos. Um lugar com diversidade e respeito. Mas o que somos agora?

Eu não sei o que vai acontecer. Eu não sei se vamos nos reencontrar ou se vamos continuar trazendo os preconceitos do mundo para esse lugar que costumava ser um símbolo de conforto. O que eu sei é que continuaremos aqui, lutando pelo o que acreditamos, desejando alcançar mais e mais gente. Em um País que pouco lê, precisamos nos unir para causar a mudança.

[Resenha] Amêndoas, de Won-pyung Sohn


Sinto que encontrei um novo livro favorito para vida. Confesso que já não me recordo como cheguei até essa leitura, tenho a vaga lembrança de ter sido relacionado com o outro livro que li e gostei muito, enquanto procurava por algo semelhante na internet. Mas isso não é importante agora. Quero dizer que eu terminei esse livro com um misto de emoções, todas positivas, é claro.

“Amêndoas” ganhou destaque após ser indicado por um dos membros do famoso grupo de kpop, BTS. Não me considero fã do grupo, mas gosto bastante de algumas músicas e fiquei curiosa ao saber da indicação.

O livro apresenta a história do pequeno Yunjae, um garoto que desde muito cedo foi diagnosticado com uma doença rara, chamada alexitimia, que o impede de identificar e expressar sentimentos. Seja a felicidade, a tristeza, a empatia ou mesmo o amor, nada disso era percebido por ele. Sua mãe tinha medo que ele fosse visto com um monstro e que sofresse pelo fato de outras pessoas não entenderem a sua condição, por isso, ela tentava ensiná-lo a perceber como os outros se sentiam e como ele deveria se sentir em determinadas situações. Ela espalhou palavras pelo apartamento em que moravam e o fazia praticar os sentimentos mais simples a fim de prepará-lo para o mundo.

Mas, por algum motivo, minhas amêndoas não parecem funcionar direito. Não se iluminam quando estimuladas. Então não sei por que as pessoas riem ou choram. Alegria, tristeza, amor, medo — todas essas coisas são ideias vagas para mim. As palavras "emoção" e "empatia" são apenas letras sem sentido impresas em papel.

Aos 15 anos, Yunjae não tem amigos, é visto como um garoto esquisito na escola e sofre com o bullying constantemente. Ele não poderia se importar menos, porque não consegue interpretar as ofensas que recebe. Mas, dentro da bolha criada para protegê-lo, sua vida é tranquila, vivendo com a mãe e a avó, em cima do sebo que sua mãe administra.

Para comemorar seu aniversário de 16 anos, sua pequena família sai para jantar. O que deveria ser uma noite alegre, vira o mundo de Yunjae de cabeça para baixo. Uma tragédia faz com que Yunjae fique sozinho pela primeira vez em sua vida. Agora, ele precisará lidar com sua doença e enfrentar as dificuldades para conhecer pessoas novas.

— Pais começam com grandes expectativas para seus filhos. Mas, quando as coisas não acontecem como o esperado, só querem que seus filhos sejam pessoas comuns, supondo que isso é simples. Mas, rapazinho, ser uma pessoa comum é a coisa mais difícil de se conseguir.



“Amêndoas” é escrito em capítulos bem curtinhos, que tornam a leitura leve e fluída. No decorrer das páginas, vamos percebendo o crescimento do jovem Yunjae e o quanto ele amadureceu. Ao se ver sozinho, ele começa a demonstrar interesse ou curiosidade em conhecer outras pessoas. É assim que ele acaba criando uma amizade com o Gon, um jovem que tem uma história conturbada e que acaba chocando com a vida do nosso Yunjae. Ele também é um garoto visto como esquisito e, às vezes, um monstro. Também por uma tragédia, Gon não pode viver a infância como tinha direito. Isso o privou de muitas coisas e o tornou um criança revoltada, com a intenção de se proteger do mundo.

Em meio a um cenário estranho, Yunjae e Gon criam um laço inesperado e tornam-se amigos. Essa amizade vai ajudar o Yunjae a aprender e entender sobre os sentimentos, ao mesmo tempo, ajudará o Gon a perceber que ele é muito mais do que cresceu acreditando que fosse.

Pegando emprestado a descrição de Vovó, uma livraria é um lugar densamente populado por dezenas de milhares de autores, mortos ou vivos, morando lado a lado. Mas livros são silenciosos. Eles permanecem em silêncio até que alguém folheie uma página. Somente aí deságuam suas histórias, calma e completamentes, sem nunca ir além do que eu posso aguentar por vez.

Uma curiosidade sobre o título do livro é que a doença do Yunjae é relacionada ao tamanho de uma parte do cérebro chamada de amígdalas. O Yunjae a chama de amêndoas, por conta da semelhança entre elas.

A história é simples, mas ao mesmo tempo é carregada de reflexões e autoconhecimento. Apesar da narrativa ser pelo ponto de vista do Yunjae, um garoto que acaba de completar 16 anos, traz um peso enorme para a leitura. É fácil perceber que ele foi muito protegido durante toda a sua vida, mas, quando se viu sozinho, foi capaz de escolher o próprio caminho.

Esse é o tipo de livro que as páginas vão passando sem que você perceba e, no fim, ficamos com uma sensação de conforto e felicidade. A diagramação, também, é maravilhosa e torna a leitura bastante fluída. Não há muito mais o que dizer sem deixar alguns spoilers por aqui. Tudo o que posso pedir é que deem uma chance para essa história e aproveitem cada pedacinho dela.


Até o próximo post! 😄