No último ano, eu perdi o ânimo ao acompanhar para onde o mundo dos criadores de conteúdo literário estava seguindo. Na verdade, ainda sinto que algo se perdeu depois de tantos anos. Houve uma época em que podíamos compartilhar leituras, falar sobre o que gostávamos ou não gostávamos sem pensar que as outras pessoas deixariam de nos acompanhar. Era uma época em que não havia competições, porque não imaginávamos que iríamos estourar a bolha e atingir um número imenso de leitores através das redes sociais. Nós escrevemos, construímos amizades e conhecemos aqueles criadores que já estavam no mundo literário há muito mais tempo. Foi uma época boa.
Como tudo na vida, esse espaço mudou. Cresceu e deu visibilidade àqueles que imaginavam uma vida trabalhando com livros, trabalhando com o que amavam fazer. E isso foi incrível, foi uma surpresa. Fico imensamente feliz ao ver que blogueiros e youtubers que eu adorava acompanhar, cresceram e continuaram influenciando inúmeros leitores mundo afora. Mesmo os criadores “menores”, que persistiram, continuam brilhando depois de tanto tempo.
Eu sinto falta das contas que não existem mais, de blogs que foram esquecidos e apagados da internet. Eu sinto falta das amizades que decidiram seguir caminhos diferentes e continuaram no mundo literário como leitores. Eu sinto falta das pessoas que iluminavam a internet e faziam desse mundo, muitas vezes, solitário, em um lugar acolhedor. Por inúmeras vezes, o mundo literário foi um refúgio, um lugar que me trazia paz e acalmava a minha mente acelerada. Durante a corrida diária entre os estudos e, mais tarde, o trabalho, esse lugar me levava de volta à zona de conforto.
Depois de doze anos, esse espaço passou a me fazer sentir ansiedade, medo, a necessidade de me encaixar e o sentimento de que não sou suficiente ou adequada para estar aqui. Quando lembro de todos os anos em que esse blog continuou ativo, sinto uma tristeza profunda ao perceber que fui perdendo o brilho, a vontade que me fazia sentar e encarar a tela do computador por horas, apenas para compartilhar a minha vida. Eu costumava ter a sensação de que sempre existiria alguém que se identificaria com o que eu escrevia. Entre as centenas de visitas diárias, eu imaginava um leitor terminando a leitura da minha postagem com o sentimento de pertencimento, de compreensão. Isso era suficiente para fazer com que eu tivesse disposição para sentar e escrever novamente.
Mas o tempo passou. Os blogs foram esquecidos e trocados por páginas onde compartilhamos conteúdos curtos, onde precisamos respeitar os limites de caracteres. Trocamos textos por imagens e vídeos que não expressam tudo o que poderíamos dizer sobre um livro. Tivemos que nos ajustar aos limites de tempo e espaço que as redes sociais nos oferecem. Agora, nós também precisamos nos preocupar em perder o nosso espaço de trabalho, porque uma rede social pode ser banida do dia para noite. Aos poucos as mudanças foram surgindo e, ao invés de nos libertar da bolha em que vivíamos, elas nos jogaram em uma bolha maior. Em uma bolha que está prestes a estourar sem nos dar pistas do que virá em seguida.
Eu sempre defendi a necessidade de mudar, de aceitar que as coisas possuem um ciclo, possuem um início, um meio e um fim. Que tudo se renova. Esse blog é um exemplo do que eu acredito. O blog passou por diversas mudanças enquanto eu procurava me ajustar e entender quem eu era. Todas as vezes em que me senti perdida, eu mudei o layout do blog. Mudei até mesmo o nome para um que representasse as mudanças que ocorreram na minha vida. E está tudo bem, porque, no fim, todas as mudanças foram necessárias e me ajudaram a escolher novos caminhos. Agora, vejo o mundo literário caminhando para um destino ainda mais solitário. Nos perdemos no caminho. Eu sinto que tudo o que levamos mais de uma década para construir está desmoronando. Criamos um lugar onde todos deveriam se sentir acolhidos. Um lugar com diversidade e respeito. Mas o que somos agora?
Eu não sei o que vai acontecer. Eu não sei se vamos nos reencontrar ou se vamos continuar trazendo os preconceitos do mundo para esse lugar que costumava ser um símbolo de conforto. O que eu sei é que continuaremos aqui, lutando pelo o que acreditamos, desejando alcançar mais e mais gente. Em um País que pouco lê, precisamos nos unir para causar a mudança.