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[Resenha] Um Menino em um Milhão, de Monica Wood


Quinn Porter é um guitarrista que ainda sonha em chegar ao topo de sua carreira e que ainda espera pela sua grande oportunidade. Ele foi um péssimo marido e um pai ausente durante a curta vida do filho. Não que ele possa ser acusado de não ter tentando. Mas já era tarde demais para repensar suas escolhas.

Aos onze anos, seu único filho acaba morrendo repentinamente e Quinn não sentia-se no direito de viver o luto de um pai que acabou de perder o filho. Quinn não conhecia aquela criança, há muito tempo ele havia desistido de entender a cabaça do filho. Não seria honesto de sua parte sofrer por ele agora. Mesmo assim, ele se viu obrigado a cumprir com o único pedido da sua ex-mulher: terminar o que o filho havia começado.

O garoto fazia parte do grupo de escoteiros e teria mais algumas semanas de trabalho para ajudar Ona Vitkus, uma centenária que em um primeiro momento poderia se mostrar bastante mal-humorada. Quinn precisaria ajeitar os seus compromissos para ajudar Ona, mas cumpriria com a missão que foi entregue a ele. Era tudo o que ele poderia fazer.



Mesmo com o pequeno tempo de convivência, Ona já tinha se afeiçoado ao menino. Ele sabia como escutar, como prestar atenção em cada detalhe, além de ser ótimo com listas. Ele havia feito com que Ona lembrasse que não estava sozinha, que no auge dos seus 104 anos ela poderia ter um amigo de verdade. A princípio, quando Quinn aparece a sua porta, ela passa a acreditar que o garoto é só mais uma criança que nunca termina o que começa. E agora, o pai estava lá para assumir as responsabilidades do filho. Mas a realidade acaba sendo mais difícil de aceitar. Era injusto que ela tenha vivido tanto e o menino não. Assim como o garoto surgiu a sua porta, Ona viu todos os planos e os sonhos que tinha construído com aquele menino de onze anos fugirem do seu alcance. Ona estava sozinha de novo. Estava sozinha com um pai que acabou de perder um filho que ele mal conhecia.

Quando Quinn chega a casa de Ona, pode imaginar os trabalhos que o filho fazia. Quinn não sabia como lidar com aquela criança. Ele tinha manias estranhas, não parecia como crianças da sua idade. Ele não sabia como um pai deveria agir. Foi por isso que aceitou o pedido da sua ex-mulher. Assim como ele também já havia calculado todo o dinheiro que devia a ela. Até a morte do menino, ele não havia deixado de dar a pensão. E continuaria fazendo isso. Quinn calculou a dívida que ele tinha com ela. Calculou a dívida que teria se o menino tivesse chegado até a faculdade. Ele daria esse dinheiro a ela.

Já o seu trabalho com Ona não parecia tão difícil. Ona era uma pessoa velha, muitas vezes mal humorada e direta em suas respostas, mas era uma boa pessoa. Quinn teria muito que fazer na casa de Ona, coisas que o filho não teria feito, mas ele cumpriria com o seu papel.


Não sei dizer o que esperava dessa história, mas qualquer coisa que eu posso imaginar seria totalmente diferente do que encontrei nesse livro! A sinopse pode enganar o leitor, mas não em um sentido ruim. O livro aborda temas importantes de forma leve, sem aborrecer o leitor. Apesar de achar que alguns pontos poderiam ter sido conduzidos de uma forma diferente, de um jeito que pudesse ter chamado mais atenção do leitor, acredito que a autora soube criar uma boa narrativa. Ela construiu uma história que encanta e que mostra as reviravoltas que a vida nos dá. Como por exemplo, esperar que a ordem natural das coisas seja que uma pessoa mais velha, como Ona, vá primeiro que um garoto de onze anos. Um menino que deveria experimentar o mundo.

Com o passar dos capítulos vamos conhecendo melhor a história da centenária Ona Vitkus, sua chegada aos Estados Unidos quando ainda era bem pequena, a vida simples e difícil da sua família como imigrantes e as escolhas que levaram Ona até o momento que a levou a conhecer Quinn. Assim como veremos partes da história de Quinn. Um guitarrista frustrado que não conhecia o próprio filho. Quinn não era totalmente indiferente ao menino, conforme vamos descobrindo com a história. Ele não sabia como lidar com a situação e fez a sua escolha. E a história começa no momento em que ele precisa perceber o que perdeu e aceitar as consequências das suas escolhas.


Quinn e Ona são dois protagonistas bem construídos e carismáticos. São personagens que encantam por serem próximos da realidade. A história deles é composta de momentos reais, nada fantasiosos ou grandiosos. São pessoas que poderíamos encontrar na rua a qualquer momento. Acho que foi isso o que me chamou mais a atenção. Claro, encontrar uma mulher com 104 anos de idade não é tarefa fácil, mas a forma como ela enxerga as coisas pode ser vista em muitas pessoas idosas a nossa volta.

No geral, é um livro lindo, leve e real. Uma história construída para mostrar que a vida pode nos surpreende de tantas formas que sequer podemos imaginar. Para entender que os nossos sonhos podem mudar, que nós podemos mudar e que devemos estar prontos para quando a mudança bater a nossa porta.

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