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[Resenha] Dezesseis, de Rachel Vincent


Dahlia 16 está acostumada a ver o seu rosto entre as suas idênticas. Todas com seus cabelos castanhos, olhos castanhos e pele clara. Elas foram criadas para não terem falhas, para serem fortes e saudáveis, e servir a cidade de Lakeview dentro do Departamento de Força de Trabalho. Foi para isso que os geneticistas criaram o seu genoma e de suas idênticas. Elas foram ensinadas a trabalhar com agricultura hidropônica e cultivar alimentos melhores do que os que cresciam na natureza. Dahlia era a melhor de sua classe. Ela sabia disso e sabia que era errado sentir que poderia produzir alimentos melhores que suas idênticas. No Departamento de Força de Trabalho ensinavam desde cedo que elas deveriam trabalhar em equipe, que uma ficava exposta e vulnerável sem outra idêntica. Sentir orgulho era uma falha e falhas poderiam custar caro. Quando a Administração identificava uma falha era necessário fazer o recolhimento de todos que carregavam o genoma defeituoso. A eutanásia era vista como necessária para manter a glória da cidade. Não era necessário questionar as decisões da Administração.

Mas Dahlia 16 era igual as suas idênticas. Cinco mil rostos foram criados com o mesmo genoma que o seu. Ela teria que evitar pensamentos que a Administração condenava. Ela não poderia sentir orgulho dos alimentos que produzia e muito menos sentir inveja dos alimentos que suas idênticas produziam. Isso poderia ser visto como uma falha e uma falha sua custaria a vida de todos as outras quatro mil novecentas e noventa e nove idênticas. Dahlia sempre seguiu as regras. Pelo menos, ela tinha seguido até o dia em que foi chamada pela Administração.


Seu trabalho na agricultura hidropônica foi bem visto pela Administração e eles decidiram por oferecer uma vaga como instrutora, quando terminasse os seus estudos. Isso seria ótimo para o bem da cidade, era uma oportunidade irrecusável. Mas se Dahlia aceitasse, seria separada de suas idênticas. Após a conversa, enquanto voltava para o seu Departamento, Dahlia acaba ficando presa em um elevador com um dos cadetes do Departamento da Defesa. O elevador estava parado e Dahlia estava entrando em crise, ela nunca tinha ficado presa em um lugar tão pequeno. Foi quando o jovem ao seu lado começou a conversar com ela. O nome dele era Trigger 17, por algum motivo ele tinha decidido quebrar as regras. A Administração havia estabelecido regras de comportamentos para todos e Dahlia não poderia confraternizar com ninguém que não fosse do seu Departamento. O cadete só estava tentando acalmá-la. E quando ele começou a contar uma história de como havia preso em uma sala quando era pequeno, Dahlia foi esquecendo o seu pânico e prendendo sua atenção a cada palavra que ele dizia. No momento seguinte ela estava conversando com ele. Dahlia estava arriscando muito em falar com Trigger, mas algo nele prendia a sua atenção. Era como se ela estivesse sendo atraída. Mas logo a energia volta e as portas do elevador são abertas. Ela nunca mais o verá e poderia esquecer para sempre o que tinha acontecido.

Dias depois, Dahlia ainda tem o rosto de Trigger gravado em sua mente. Essa imagem a perseguia por todos os cantos. Não só a imagem que ficara em sua cabeça, como o próprio cadete. Ele aparecia em todos os lugares onde ela estava. Dahlia estava distraída nas aulas e em todas as atividades que fazia com suas idênticas. Ela já começava a cogitar a ideia de ter algum defeito. Suas idênticas não eram assim. Elas não pensavam em outros garotos, muito menos tinham quebrado uma regra que colocaria a vida de todas em risco.

Dahlia precisava controlar a situação, mesmo que fosse difícil ela deveria pensar no bem da cidade e no bem das suas idênticas. Ela poderia causar o recolhimento de todas. Mas como Dahlia poderia resistir a atração que sentia pelo cadete se ao abrir a gaveta com suas roupas, encontra um presente de Trigger 17 e um bilhete pedindo que ela o encontre?


Como uma reviravolta atrás da outra, o leitor vai acompanhando as descobertas e a busca de Dahlia por respostas. Conforme a atração que ela sente por Trigger vai aumentando e ela passa a se enxergar diferente das suas idênticas, Dahlia começa a entender que há algo diferente nela. Mas ela foi criada para entender que o diferente é um defeito, uma falha. Dahlia passa a acreditar que o seu defeito vai colocar a vida de suas amigas em risco. Ela sabe o risco que corre e as consequências que terá que enfrentar, mas Trigger está mostrando a ela que existe muito mais do que as paredes do Departamento de Força de Trabalho ensina. Trigger foi ensinado a agir sozinho, a competir com seus idênticos. Enquanto isso, Dahlia foi ensinada que uma idêntica sozinha está sempre vulnerável, que para a glória da cidade, elas precisam trabalhar em equipe.

Trigger também o melhor da sua turma. Ele é líder da equipe, inteligente e ágil. Mas sua atração por Dahlia irá coloca-los em perigo. É fácil torcer pelos dois. Trigger ganha o coração do leitor logo de cara. Dahlia também conquista o leitor, quando não está tomando decisões erradas. O que me irritou várias vezes durante o livro. É fácil entender que para ela, quebrar as regras seja difícil. Todos no seu departamento aprendem desde cedo quanto custa não respeitar as regras da Administração. O que é bem diferente para o Trigger, que sempre foi induzido a agir de modo completamente diferente. Mas na maioria das vezes fica claro que a decisão da Dahlia vai dar em um problema ainda maior para eles, mas mesmo assim ela toma as piores decisões.


Fora isso, tanto Dahlia quanto Trigger são personagens fortes e bem construídos. A história tem um ritmo bom e a capa identifica bem a história. A autora soube como dar início a série mostrando várias informações sem confundir demais o leitor e sem deixar que a história perdesse a atenção do leitor. Achei o final um tanto rápido demais, mas entendo que tenha sido a melhor forma de chamar o leitor para o livro seguinte.

No geral, é uma leitura ótima e em meio aos capítulos, vamos reconhecendo várias críticas importantes para sociedade em que vivemos. Dezesseis é uma ótima dica de leitura para esse começo de ano!

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