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Resenha | Tempo de Regresso, de Kristin Hannah


Meghann Dontess é uma advogada de sucesso. Trabalha em um luxuoso prédio e sua casa é tão fria e vazia como um quarto de hotel. Nem todo o dinheiro que conseguiu ganhar foi capaz de preencher a tristeza e a solidão que o passado deixou em sua vida. Meghann já tinha perdido muito e o trabalho era tudo o que restava agora. Como advogada, Meghann era brutal, competente e sempre conseguia o que os seus clientes queriam, o que a tornou um nome reconhecido.

Sua vida não existia sem o trabalho e ela não estava disposta a mudar. Não que a sua psicóloga aprovasse suas decisões. Mas não havia nada que a fizesse reviver o que havia acontecido há tanto tempo. Meg ainda resistia às lembranças do dia em que foi embora, deixando a irmã para trás. Ela sabia que era o melhor a se fazer. Claire merecia uma vida diferente do que a vida que a mãe era capaz de dar a elas. Meg não teve escolha a não ser agir como a pessoa responsável da família. Ela tinha cuidado da irmã, tinha agido como uma mãe, enquanto a mulher que deveria ser responsável por elas não conseguia agir como a adulta que deveria ser. Ela havia prometido a irmã que sempre estariam juntas, mas naquele dia ela havia quebrado a sua promessa e a imensidão que se abriu entre elas era demais para ser ultrapassada.

Claire Cavenaugh havia encontrado uma nova vida quando descobriu quem era o seu pai. Meg o havia encontrado e a vida difícil que levavam com a mãe tinha ficado para trás. Seu pai havia feito de tudo para compensar o tempo que haviam perdido. Mas Meg pareceu não se sentir incluída em sua nova vida. Claire havia percebido tarde demais e Meg acabou indo embora, deixando a irmã. Esse tinha sido um golpe que Claire havia demorado demais para superar, mesmo tantos anos depois, a mágoa ainda estava presente em seu coração. Ela queria a irmã de volta, mas ela parecia não ter a mesma vontade. 

Claire teve uma vida mais simples, mas estava sempre rodeada de pessoas que a amavam. Sua vida se resumia ao pai, sua filha e o resort do seu pai. Não que tudo tivesse sido tão fácil depois que Meg havia ido embora, mas ela teve uma vida melhor do que poderia ter desejado. Foi abandonada pelo namorado ao descobrir que estava grávida e tinha sido a melhor mãe que poderia ser. Mas a vida ainda reservada alguns momentos de felicidade. Claire parecia ter encontrado alguém que era capaz de amá-la. Depois de tantos anos sozinha, ela iria se casar. E quem diria que esse seria o gancho necessário para reaproxima-la da irmã? Meg sempre foi controladora e ela estava disposta a mostrar a Claire que o casamento era um erro. O que poderia vir de toda essa história, nem mesmo Claire poderia imaginar. Mas, se houvesse a possibilidade de ter a irmã de volta, talvez valesse a pena enfrentar o que estivesse pela frente.


Essa é uma história sobre o amor entre irmãs. Assim como todos os livros da Kristin Hannah, os laços de família estão sempre bem representados e tomam conta da história de uma forma envolvente. Meg e Claire carregam mágoas que nunca foram discutidas. Quando Meg foi embora, um buraco se abriu entre elas. Palavras não ditas e ressentimentos ficaram guardados, eles estavam sempre à espreita.

Meg é uma mulher incrível. Um personagem criado com tanta bagagem emocional que é possível imaginá-la como alguém que poderíamos encontrar no nosso dia-a-dia. Ela carrega uma força imensa e ao mesmo tempo traz uma fragilidade que faz com que você se identifique com ela. Meg teve que ser adulta desde muito cedo. Ela era responsável pela irmã que não era muito mais nova do que ela. Enfrentou alguns perrengues quando foi embora, deixando Claire com o pai e ainda assim, mudou toda a sua vida ao entrar na faculdade e se tornar uma das melhores advogadas da cidade. Mesmo com tanta força, Meg não era capaz de enfrentar o seu passado. A distância que se ergue entre ela e a irmã era algo que ela não poderia lidar, mesmo que a sua vontade fosse completamente diferente.

Já Claire é o oposto da irmã. Tem uma vida leve e cercada por pessoas que ama. Ela é mais intuitiva e demonstra os seus sentimentos. Comparada a vida que a irmã teve, Claire tirou a sorte grande por ter conhecido o pai, por ter encontrado amigas que permaneceram ao seu lado e por ter tido uma filha que se tornou o centro do seu mundo.

Meg e Claire, por mais diferentes que possam ser, carregam uma ligação forte, mesmo que não queiram aceitar. O passado deixou marcas que nenhuma das duas poderá esquecer. Ele moldou a personalidade das duas e acabou favorecendo mais uma do que a outra. Mas o ponto aqui é até onde o amor entre duas irmãs pode ser ignorado?

Tempo de Regresso” é uma história com muitos significados e trata de assuntos importantes e que merecem ser discutidos. Todos os personagens inseridos na história foram criados com uma bagagem gigante e que os tornam pessoas reais. É impossível ler este livro sem se identificar com um único personagem.

Como sempre a autora soube conquistar a atenção e criar uma história impossível de não ser vivida até a última página. A história acabou tomando um significado ainda maior para mim, depois de tudo o que aconteceu este ano. Mas essa é a graça da  leitura, não é? Se um livro não for capaz de marcar a sua vida, qual seria o prazer na leitura?

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