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[Resenha] Rastros de Sangue: Jack, O Estripador


Audrey Rose Wadsworth é uma jovem a frente do seu tempo. Apesar de ter crescido entre as jovens damas da aristocracia britânica, Audrey não consegue dedicar os seus dias a festas e chás da tarde, ou mesmo ficar trancafiada em uma gaiola de ouro como seu pai deseja. Ela acredita que todas as mulheres são capazes de exercer funções como todos os homens. É por isso que ela mantém as saídas furtivas para a casa do seu tio Jonathan Wadsworth, onde pode passar o tempo em meio à penumbra do laboratório, acompanhada pelos corpos daquelas que já não podem contar suas histórias. Seu tio havia decidido por ensinar sua sobrinha à prática da medicina forense e não era de admirar que Audrey Rose fosse bem sucedida. A jovem tinha talento e inteligência. Enquanto as jovens da aristocracia aplicavam suas técnicas de bordado em lencinhos, Audrey testava suas habilidades ao costurar um corpo após a autopsia.

Era uma pena que seu pai não desejasse sua aproximação com o tio. Uma inimizade que foi construída após a morte de sua esposa. Lorde Edmund Wadsworth, um homem excêntrico e inflexível, acredita que o irmão é uma má influência para a filha. Seus hábitos, nada saudáveis para uma jovem dama da sociedade, poderiam comprometer a reputação de Audrey Rose. Como pai, viúvo e em pleno século XIX, Lorde Wadsworth acredita que a filha deveria estar preocupada com as lições que sua tia Amélia tinha para ensinar.

"Oh? Me mostre no dicionário médico onde está escrito que uma mulher não consegue lidar com essas coisas. Do que é feita a alma de um homem que não exista na alma de uma mulher?", provoquei. "Eu não fazia a mínima ideia de que minhas entranhas eram compostas de algodões e gatinhos, enquanto a alma de vocês, homens, são cheias de aço e partes mecânicas."



Mas já não havia tempo para amenidades.

Jack, o Estripador escolheu a sua vítima. O primeiro corpo foi encontrado em um estado deplorável, assustador. Até mesmo para aqueles acostumados com a morte, aquela parecia uma cena que jamais seria esquecida. O pânico se instalara e era preciso encontrar o assassino. A cidade já estava impaciente e cobrava uma resposta. Ao mesmo tempo, a Scotland Yard, sem se aproximar de qualquer solução, prendia todos os possíveis assassinos.

Audrey precisava correr contra o tempo. Não havia dúvidas de que o assassino agiria novamente. O tio de Audrey acreditava que o Avental-de-Couro estava atrás dos órgãos de suas vítimas. Junto com o irritantemente inteligente e bonito Thomas Cresswell, o jovem aprendiz do seu tio, Audrey Rose iria fazer o que fosse preciso para descobrir a identidade do assassino e livrar as pobres mulheres de East End do serial killer.

Eu sonhava com o dia em moças poderiam usar rendas e maquiagem, ou maquiagem nenhuma e pudessem vestir um saco de aniagem se assim desejassem, para atuarem em suas profissões escolhidas sem que isso fosse considerado inapropriado.




Audrey é uma jovem encantadora. Logo no início do livro é possível se identificar com a personagem. Ela é uma moça sonhadora, fiel aos seus princípios e feminista, mesmo que de forma nem sempre tão explícita, é possível identificar nos discursos da personagem o seu posicionamento quanto ao espaço que a mulher deve ocupar na sociedade. Com um pai extremamente protetor e autoritário, e vivendo em uma sociedade sexista, Audrey consegue lutar pelo o que ela deseja.

Enquanto isso, seu parceiro de aventura (e romance) prova ser mais do que um rostinho bonito. Thomas Cresswell sabe o efeito que causa nas pessoas, mas se preocupa demais com os estudos e trabalhos para se importar com isso. É um jovem brilhante, com uma capacidade de dedução invejável e é sincero também, independe do efeito que as suas palavras podem ter sobre as outras pessoas. A única capaz de fazer com que o jovem brilhante perca o controle é Audrey Rose, por mais que Thomas quisesse negar.

Juntos, eles irão se arriscar pelas noites em East End em busca do assassino. Pontas soltas e pistas deixadas pelo criminoso levam a um suspeito importante e próximo de Audrey. Ela precisará escolher entre contar a verdade e colocar um fim nos assassinatos ou encontrar uma saída para proteger o verdadeiro culpado.

O primeiro livro da série Rastros de Sangue traz uma história brilhante sobre um dos assassinos mais famosos da história. O criminoso apelidado de Jack, o estripador nunca foi encontrado. Os ataques atribuídos a ele envolviam prostitutas que viviam e trabalhavam nos bairros pobres de East End. A autora manteve-se próxima da história já conhecida pelo público, mas criando uma identidade totalmente nova. Uma jovem da aristocracia como protagonista e detetive em busca de respostas. É uma leitura maravilhosa!

Minha única ressalva vai para o final, onde eu esperava que Audrey fosse mais rápida e direta para descobrir a identidade do assassino. Mesmo com todas as provas na sua frente, a jovem teimou em aceitar a verdade. Enquanto isso, o seu parceiro de investigações não fica atrás. Thomas tem um papel importante na história, mas sem deixar de dar destaque a protagonista.

Mais uma vez, é um livro incrível! Eu me arrependo muito de não ter lido assim que foi publicado no ano passado, mas o segundo livro da série já está nas livrarias e um novo mistério chegou para ser resolvido.

[Resenha] Melhor que a Encomenda, de Lauren Blakely


April é apaixonada pelo seu trabalho, mesmo que não seja um emprego convencional como que os seus pais tanto sonham. Sua veia artística foi algo que sempre esteve presente em sua vida, mas pintar os modelos que estariam em campanhas publicitárias e até filmes era o que a fazia feliz. Com esforço, seu trabalho enfim começou a ser reconhecido. Agora ela esperava pela resposta de uma das maiores companhas que poderia assumir. Conseguir esse emprego seria o um sonho realizado.

Seus pais não entendiam o que ela fazia. Para eles, April continuava sendo aquela jovem pintando rostos em festas da família. Ela nunca teria estabilidade financeira, principalmente por estar tão longe de casa. A família de April ainda morava na pequena cidade de Wistful e é para lá que eles esperam que ela volte. Eles acreditam que Nova Iorque não trará nada de bom para ela, ainda mais depois do seu último relacionamento. April acabou revelando para família o que o mentiroso do seu namorado havia feito e isso foi o suficiente para começar uma campanha louca para leva-la de volta a sua cidade natal.


Foi por isso que April decidiu contratar Theo. Sua ideia era levar o seu melhor amigo, Xavier, como acompanhante. Mas um trabalho irrecusável o tirou do país. Agora a sua única opção era pagar pelo serviço de acompanhante, afinal, não havia chances de ela chegar à reunião de família sozinha. Eles já estavam enviando e-mails para marcar encontros com homens que seriam ideais para April. Homens com um emprego convencional e que moravam em Wistful. Seriam cinco longos dias se ela aparecesse sozinha.

Para Theo, a nova cliente veio na hora certa. Seu trabalho como barman não pagava bem e ele tinha uma dívida alta para pagar. Se tudo ocorresse bem, ele teria boa parte da quantia que precisava para se ver livre de uma dívida que não era dele. Theo e o irmão perderam os pais antes que pudessem terminar os estudos. Ficaram sob a responsabilidade de uma tia viciada em remédios e que não fazia questão de cuidar dos sobrinhos. Foi por isso que eles começaram a se envolver em confusões. Theo faria o que fosse preciso para proteger o irmão, e essa dívida poderia arrastá-lo de volta para uma vida de golpes. Por isso, ele precisava do trabalho. O dinheiro de April ajudaria a quitar parte da dívida. Mas não seria um trabalho fácil. Ao encontrar com a sua mais nova namorada de mentira, Theo percebeu que seria necessária muita força de vontade para resistir a aquela mulher.

Ao chegar a pousada dos pais de April, a história de mentira deles já está mais do que acertada e Theo conquista a todos antes mesmo do dia terminar, mesmo com os pais de April tentando deixa-la longe de Theo. A afinidade entre eles longo vai se transformando em algo que tanto April quanto Theo tentam negar. É preciso lembrar que a relação deles é apenas de cliente e contratado. Não há nada mais que isso.




Melhor que a Encomenda” é um daqueles livros que mais se parecem com um filme de sessão da tarde, uma comédia romântica, clichê, mas cheia de amor para dar e que conquista logo de cara. É impossível não saber o que vai acontecer logo nos primeiros capítulos. Como eu disse, é um clichê, mas sem deixar de surpreender o leitor. O final é mais do que esperado e não decepciona em nada. É um livro gostosinho e leve de ler.

April é dona de um senso de humor ótimo que completa o de Theo. Eles se encaixam melhor do que podem imaginar num primeiro momento. Ou talvez, mais que querem acreditar. April está focada no seu trabalho e evitando contato com homens. O seu último namorado provou o quanto ela teria arriscado por uma mentira. O homem foi um cafajeste e foi por isso que ela se manteve longe de relacionamentos. Sentir atração por Theo a faz pesar os riscos que correria em se envolver com alguém. O cara é lindo, com bom humor, inteligente e, por mais que sua família queira negar, todos gostaram dele. Ela estava gostando dele, mas como poderia ter certeza que ele sentia o mesmo? Esse era só mais um trabalho para ele. E se a forma como ele a olhava ou o ciúmes que demonstrava fosse todo encenado?

Enquanto isso, Theo lutava para não quebrar suas regras. Ele nunca tinha se envolvido com um cliente antes e essa não seria a primeira vez. Além da atração que sentia por April, ele sabia que ela merecia alguém melhor. Alguém melhor do que ele seria capaz de ser. Ela vinha de uma família rica, enquanto ele foi para faculdade com o dinheiro de golpes que ele e o irmão aplicavam nos universitários. Além disso, Theo não tinha sido sincero com April. Ela acreditava que ele trabalhava como ator, que esse era só uma forma de exercitar seus talentos enquanto esperava por um bom trabalho. Isso o corria por dentro. Ela era sincera com ele o tempo todo. Se ele decidisse ceder aos seus desejos precisaria ser honesto com ela e isso significava expor todos os seus erros. Será que ela seria capaz de aceita-lo?



Os capítulos são divididos entre o ponto de vista da April e do Theo. O que nos dá uma boa ideia de como os dois são cabeças duras e poderiam resolver tudo de um jeito mais fácil. Ainda assim, é fácil se aproximar dos personagens e torcer para que tudo dê certo no final. É um livro amorzinho demais e uma ótima escolha de leitura para quem gosta de um romance leve e divertido.

[Resenha] Feitos de Sol, de Vinícius Grossos


O ano é 1999, a poucos meses do Bug do Milênio. Um erro nos sistemas de informática prometia causar o fim do mundo na virada do ano de 1999 para o ano 2000. Apesar da catástrofe eminente, muitos não acreditavam que o fim estava perto. Esse não era o caso de Cícero, um nerd de quinze anos e apaixonado por quadrinhos, que não só acreditava como também estava se preparando para o grande dia.

No momento, sua maior preocupação foi trocada para conseguir a última edição do seu quadrinho favorito: Under Hero. Depois de 34 edições, ele finalmente saberia o final da história que fazia parte da sua vida. Mas Cícero foi tomado pelo desespero ao se aproximar da Taverna do Dragão, a única loja na pequena cidade que vendia revistas para nerds como ele. A Taverna estava fechada. Definitivamente. No meio da sua crise, aparece Vicente, tão jovem e apaixonada por Under Hero como ele. Juntos, eles decidem ir à procura da última edição.

Vicente, apesar da risada fácil e da força que carrega, vem de uma família extremamente religiosa que o impede de ser que ele é abertamente e controla todos os seus passos. Totalmente o oposto do Cícero que passa os finais de semanas livres, enquanto a mãe está na casa do namorado, e vive uma relação de confiança com a mãe. Sendo apenas os dois, durante a vida toda, foi necessário que um confiasse no outro, com isso, Cícero conquistou mais liberdade que muitos na sua idade jamais teriam.

Apesar de virem de mundos completamente diferentes, a aproximação entre eles é instantânea e o amor pelo mesmo super-herói será a ponte que eles precisavam para enfrentar o mundo, juntos.



Cícero logo percebe um sentimento novo crescendo dentro dele e, sem precisar rotular o que sente, sabe que é bom. Seus relacionamentos, até o auge dos seus quinze anos, se baseavam apenas na amizade colorida que mantinha com a Karol. Sua amiga era totalmente fora da caixa e sem preconceitos. Ela buscava a felicidade onde quer que estivesse, mesmo que isso a levasse para fora dos “padrões”.

Já Vicente precisa tomar todo o cuidado possível. Não importa o que ele sente, os seus pais jamais permitiriam que ele se abrisse para o mundo. Cícero apareceu para ele como um sopro de vida, permitindo que ele enxergasse o mundo além do círculo fechado que os seus pais impunham. Seu pai era autoritário e não havia nada na casa que não pudesse ser considerado vindo de Deus. Sua salvação era a Dona Emir, sua avó excêntrica. Ela zelava pelo neto, sabendo no que o filho tinha se tornado.

A procura pela última revista do Under Hero chegou na hora certa. Cícero iria onde o Vicente quisesse ir. Em poucos dias ele já precisava lidar com a angústia que ausência de Vicente causava. Enquanto isso, Vicente via como a oportunidade de se ver livre da vida que tinha com os seus pais. O autoritarismo do pai não era sua maior preocupação. Quando Vicente não agia como um garoto “normal”, como o homem que a família esperava que ele fosse, o pai se tornava agressivo. Além disso, ele queria estar com Cícero. O garoto tinha mostrado a ele que a vida poderia ser boa e tinha espaço para pessoa como ele. Foi assim que os dois partiram para a maior aventura de suas vidas, prontos para brilhar.




Feitos de Sol” é, sobretudo, uma mensagem de amor. Indiferente da forma como ele aparece em nossas vidas. É necessário aceitar quem somos, sem rótulos ou preconceitos, e partir em busca do que nos faz felizes. É uma história cheia de dor e um choque de realidade, mas mostra que a vida está sempre pronta para nos surpreender. Seja você ateu ou cristão, não importa o significado que você dê as coisas que acontecem a sua volta, é importante aceitar que somos diferentes. Mesmo o nosso melhor amigo carrega crenças e opiniões diferentes da nossa. E é isso o que torna cada momento especial.

Cícero e Vicente carregam o sol dentro deles. Eles brilham como todos nós deveríamos brilhar. Apesar de novos, carregam o peso de enfrentar um mundo hostil, que muitas vezes se torna agressivo com pessoas que se aceitam. Quando eles decidirem partir juntos para uma aventura longe de casa, eles aceitaram que estavam juntos, independente do que acontecesse, e tudo valeria a pena.

Eu não tenho como explicar como essa história conseguiu me tocar de uma forma surpreendente. Já esperava que fosse mais um livro maravilhoso do Vinicius Grossos (já deixei bem claro aqui no blog o quanto eu sou apaixonada pelos livros dele *-*), mas é incrível perceber que a cada livro ele consegue se superar. Ele coloca toda a sua personalidade na história e é impossível não se emocionar com cada pedacinho desse livro.

E ainda temos um bônus. Há uma playlist para acompanhar a história e, Deus do céu, como ela é maravilhosa! Vou deixar aqui embaixo para vocês ouvirem e sofrerem junto comigo.