Às vezes tenho a impressão de estar vivendo em um mundo só meu, onde a rotina me consome a cada dia.
Já não me arrisco a mudar o caminho. Todos os dias eu saio de casa no mesmo horário, faço as mesmas atividades no trabalho e volto para casa, pontualmente, no mesmo horário. Já não perco tempo conversando com amigos na rua e sinto uma necessidade cada vez maior de voltar para a segurança do meu quarto. Não sinto mais vontade de manter o bom humor. As notificações do e-mail e das redes sociais vão acumulando, por conta da preguiça por ter que pensar em alguma resposta.
A vida perdeu o encanto, ou
quem sabe fui eu quem perdeu a vontade de desejar coisas novas. Eu me sinto, cada vez mais, presa à mesmice e a correria do mundo. Passei a ver a vida como algo sem brilho, como um caminho constante, sem tropeços e sem surpresas.
Sinto falta da inocência que toda criança carrega. Sinto falta de acreditar e de confiar no inesperado. Mas ainda assim, eu não me arrisco mais. Passei a acreditar, ou melhor,
passei a desacreditar no mundo. Talvez por opção, talvez por cansaço. Quanto mais confiamos nas pessoas, mais elas nos provam o quanto deveríamos aprender a desconfiar. O quanto deveríamos aprender a manter um pé atrás, só por garantia.
Em um mundo onde as pessoas passam uma pelas outras, sem sequer olhar para a necessidade do próximo, sem sentir vontade de querer que a vida de todos mude e não apenas a sua; não é neste mundo em que eu cresci e quero continuar a viver.
Um mundo onde a rotina nos consome, onde os nossos problemas fecham nossos olhos para tudo o que acontece ao nosso redor.
No fundo, o que me faz falta de verdade é quem eu já fui um dia. Uma pessoa que acreditava poder ajudar a mudar o mundo. Alguém que fazia a diferença, que se sentia segura de ser quem era sem se importar com mais nada.
Disso sim eu sinto falta: a segurança de acreditar que eu sei quem realmente sou.