Ando numa fase de comprar livros que não são lançamentos, livros que não estão na moda e que você não vê resenhas de uma só vez em todos os blogs. Então fui para Bienal esse ano pensando nisso. Quase todos os livros que comprei não foram publicados neste ano, mesmo assim são livros que me encantaram do começo ao fim.
"Como falar com um viúvo" foi uma leitura engraçada e surpreendente. O autor soube criar uma história leve e envolvente.
Eu tinha uma esposa, seu nome era Hailey. Agora ela se foi e eu também.
Há um ano, Doug perdeu a esposa em um acidente de avião. Desde então ele afundou-se em uma vida de autopiedade. Não saí de casa e passa a maior parte dos dias bebendo. Para ele voltar a ser feliz seria não dar importância ao que Hailey representava em sua vida. Ele não quer esquecê-la.
Você quer seguir em frente, mas para isso é preciso deixá-la para trás, e você não quer deixá-la para trás, por isso não segue em frente.
Junto a sua imensa dor, Doug precisa lidar com Russ, seu enteado nervoso e autodestrutivo. Além da sua irmã gêmea Clarie, que está disposta a devolver a felicidade para a vida Doug.
Após um ano desde o acidente, Doug mantém tudo a sua volta como se Hailey tivesse acabado de sair de casa. O sutiã que ela deixou na maçaneta do banheiro continua lá e o livro que estava lendo continua na mesinha do lado dela da cama. Tudo o que Doug faz é sobreviver a cada dia, sentindo a dor de tê-la perdido.
Quando Clarie decide divorciar-se do marido e descobre que está grávida, vai morar com Doug e com isso, ele será obrigado a deixar o luto de lado para ter a sua vida de volta, incluindo na sua lista novos encontros românticos.
De forma engraçada e até mesmo inusitada, o trabalho de Doug é escrever uma coluna sobre como falar com um viúvo. Nela ele tenta e explicar o quanto sente a ausência de sua esposa e o vazio que tomou conta dos seus dias.
Perdi alguma coisa quando Hailey morreu. Não sei direito como chamar isso, mas trata-se do mecanismo que nos impede de dizer a verdade quando alguém nos pergunta como estamos, aquela válvula vital que mantém as nossas emoções mais profundas e genuínas debaixo de tranca e cadeado. Não sei exatamente quando perdi essa capacidade, ou como poderei recuperá-la, mas por enquanto, no que diz respeito a tato, civilidade e descrição, sou um acidente prestes a acontecer, vez após vez.
Não se engane, apesar do tema, o livro não se prende apenas ao clichê. Tudo é novo e cada personagem ganha uma história incrível. Como o pai de Doug, que após um AVC, passa a maior parte do tempo sem saber o que acontece a sua volta e sem reconhecer a família. Até suas irmãs, Russ e sua mãe, uma ex-atriz de teatro, dão a história um brilho a mais.
É um livro muito bem escrito, sem focar apenas na vida perfeita de um bom casamento e trazendo ao leitor a realidade.