Antes de qualquer coisa, se você não leu o livro e/ou não assistiu à adaptação da Netflix, preciso que você saiba que esse post pode conter spoilers da história contada no livro e na adaptação. Agora, se você não se importa com spoilers, siga em frente sem medo!
2020 será um ano cheio de emoção e novidades para nós, bookstans. A série da Julia Quinn sobre os Bridgertons deve chegar ainda este ano, o filme sobre o primeiro livro do A.J.Finn também está quase aí (confira a resenha de “A mulher na janela”), fora tantos outros. E o primeiro filme na minha lista de esperados estava a adaptação da Netflix para “Por Lugares Incríveis” (All The Bright Places), da Jennifer Niven. Um livro com uma história difícil, sensível, mas bonita. Uma história necessária, que merecia alcançar muitas pessoas.
Mas aqui vai outro alerta: a história possuí gatilhos.
Vamos rapidamente apresentar os protagonistas. Theodore Finch é conhecido como a aberração da escola. Todos acham que ele é esquisito, complicado e, no mínimo, diferente. Ele está sempre pensando no melhor jeito para morrer. Desta vez, ele está na torre da escola. Enquanto ele pensa em como seria se ele pulasse, acaba notando que não está sozinho. Violet Markey, uma das garotas populares da escola, está a poucos metros de distância dele. Mas o que levaria uma garota como ela a pensar em suicídio?
Violet tinha uma vida perfeita, até o acidente. Uma batida de carro que acabou tirando a vida de sua irmã, sua melhor amiga. Violet não consegue aceitar a morte da irmã e seguir em frente. Em um impulso, ela foi levada a torre da escola. Só não esperava encontrar ninguém lá em cima, ainda mais o garoto que todos evitavam.
Depois desse rápido e inesperado encontro, os dois acabaram se aproximando. Finch tenta se aproximar de Violet, enquanto lida com os próprios problemas. Com uma personalidade instável, ele sofre com o medo de acabar igual ao pai. Não tem conforto algum na família. Suas crises e problemas são ignorados por todos em casa. Ninguém parece enxergar que o garoto não consegue lidar a sua confusão interna.
E é partir desse ponto que a história se desenrola.
Em “All The Bright Places” a história começa um tanto diferente. Finch (Justice Smith) encontra Violet (Elle Fanning) em um local fora da escola, mas que não é totalmente aleatório. Claro, perde um pouco do sentimento que a autora conseguiu expressar no livro, mas é possível entender o motivo de terem alterado.
Desde os primeiros minutos, é possível identificar a personalidade do Theodoro Funch dos livros na adaptação. Conseguiram encontrar o tom certo para dar vida ao Finch e ele não fica a desejar em nenhum momento. Independente se a história é alterada na adaptação, o primeiro ponto positivo deste filme é a atuação do Justice Smith.
No geral, podemos dizer que os dois protagonistas se saíram muito bem. Apesar da história ter sido alterada para se encaixar no filme, os dois carregam o carisma e a dor que tanto acompanhamos nos livros.
Senti falta de cenas que explicavam melhor o relacionamento entre o Finch e a Violet, cenas que mostravam o quanto era difícil para o Finch sobreviver com o que acontecida dentro dele e, muitas vezes, com o medo de acabar como o próprio pai. E esse é outro ponto que também não ficou muito claro na adaptação. Nos livros podemos entender até em que ponto foi o relacionamento de pai e filho. O que levou a isso e as consequências disso na cabeça do Finch. Na adaptação é um ponto que não é mencionado mais de duas vezes e totalmente superficial. Talvez se tivessem dedicado mais tempo a essa conexão, tivéssemos visto mais do que havia por trás do Finch.
Enquanto isso, a história da Violet foi melhor aproveitada. O sentimento de ter sobrevivido ao acidente e a irmã não, foi igualmente doloroso ao vivido nos livros. A dor responsável por ter unido a Violet ao Finch estava lá o tempo todo. O que me trouxe uma forte sensação de estar vivendo a história novamente.
Já o desfecho da história, que também não passou ileso pelas adaptações do roteiro, não deixa de emocionar. Não sei como foi para você ter assistido (ou como será quando você puder parar um tempinho e aproveitar essa história), mas senti um pouco de todo o desespero que levou a aquele final. Claro, poderiam ter focado mais no Finch, nos momentos que o levaram ao desfecho da história. Muita coisa ficou sem explicação, principalmente para quem não leu o livro. Ainda assim, acho que foi coerente com o que eles já tinham mostrado até então.
Gostei bastante do filme. Mudaria algumas coisas? Claro! Mas todos nós sabemos que adaptações nunca são fiéis aos livros. É preciso escolher como apresentar a história para quem está do outro lado da tela e muitas coisas acabam ficando de fora, não é uma novidade para nós. Muitos livros já perderam a sua magia, sua essência, ao serem adaptados. Muitos conseguiram nos conquistar mesmo com pedações esquecidos ou ignorados. Mas para esses momentos ainda podemos confiar nos nossos livros. Neles estaremos sempre por inteiro.