
Fiquei bastante animada para preparar as postagens dessa nova coluna e já comecei a desenterrar os livros que há muito tempo havia lido para encontrar personagens que possam ser relembradas. Um dos livros que acabei encontrando foi "A Cidade do Sol" e me lembrei do quanto gostei desse livro. É uma história que, em partes, encaixaria na lista do post anterior (Três livros para sair da rotina, confira), com a diferença que os protagonistas neste livro são duas mulheres. Foi uma história que me fez chorar e perceber que existem realidades completamente distantes da nossa.
Por isso, escolhi para o segundo post sobre Mulheres Marcantes na literatura, Mariam e Laila. Duas mulheres que inicialmente não se conhecem, mas que juntas trazem força e inspiração para os leitores, enquanto enfrentam a dura realidade de serem mulheres dentro de uma sociedade opressora no Afeganistão.

O livro é dividido em duas partes e na primeira você irá conhecer Mariam, que aprendeu ainda na infância qual era o seu "lugar no mundo". Mariam nasceu de um relacionamento fora do casamento de Jalil com Nana, um homem rico e a empregada da casa. Desse relacionamento nasceu uma harami (bastarda), e sua mãe tratava de não deixar que a menina esquecesse. Mariam cresceu aprendendo a aceitar o que a vida lhe descesse sem desejar ter mais do que lhe era oferecido.
No início, quando Mariam ainda era apenas uma garotinha ansiosa pelas visitas semanais do pai, ela ainda tinha a capacidade de esperar o melhor das pessoas e até poderia sonhar. Mesmo com a mãe tratando de fazer com que a filha mantivesse os pés bem firmes no chão, Mariam sonhava e ignorava o que a mãe lhe dizia. Era nova demais para entender que Nana estava certa. Mas a morte da mãe foi como um balde de água fria, porque de um dia para o outro a garota teve que cumprir com o seu destino.
O pai de Mariam não poderia ficar com ela, a família nunca não aceitaria. Então Mariam foi obrigada a aceitar um casamento arranjado com Rashid, um homem que jamais viu e bem mais velho do que ela. Quando ele descobre que a esposa não poderia ter filhos começa a desprezá-la e espancá-la por qualquer atitude que a esposa tenha.

A segunda parte da história começa e traz Laila, filha de um professor que, todos os dias, mostrava a filha que ela não poderia deixar de lutar pelo o que desejava. Laila foi criada para entender que a vida de uma mulher vai muito além do casamento e ter filhos. Laila é inteligente e frequenta a escola, apesar dos conflitos constantes no Afeganistão.
Quando os pais de Laila morrem em um atentado, ela é obrigada casar com Rashid, que no início a trata melhor que Mariam, mas logo Laila também irá sofrer com os abusos do marido. Dessa forma trágica, o destino trata de unir o caminho das duas e mostrar que elas precisaram estar juntas para suportar o que a vida impôs a elas.
Laila e Mariam poderiam ser mais duas histórias de mulheres que sofrem com a agressividade e abusos do marido, mas o ambiente e os costumes em que ocorrem é o que traz mais realidade e dor ao livro.
O Oriente Médio vive em meio a conflitos constantes e isso é nenhuma novidade. Basta ligar a televisão ou abrir um site de notícias para ver novos conflitos e os resultados da guerra. É uma história que vai além dos conflitos pelo poder, é sobre a forma como a guerra atingiu a liberdade da sociedade. Os direitos das mulheres agora praticamente não existem. Ver essa sociedade sendo retratada e o tratamento que as mulheres são obrigadas a aceitar é o que torna "A Cidade do Sol" um dos melhores livros que eu já li e coloca as duas protagonistas entre as minhas favoritas.

Com personalidades completamente diferentes, é possível perceber a força de cada uma com a forma que reagem ao que acontece. Mariam se tornou uma mulher forte, mas acima de tudo, submissa. Anos depois da morte da mãe, ela finalmente entendeu o que ela queria dizer. Já Laila, apesar da força que carrega, precisa guardar o que o pai um dia lhe ensinou e aprender a se submeter às ordens do marido.
É impossível não se emocionar e não desejar a força que as duas mulheres trazem, porque independente da dor extrema que sentiam, elas se mantiveram fortes. Não por opção, mas por necessidade. Nenhuma sobreviveria se as duas não reagissem.