Vox
Christina Dalcher
Editora Arqueiro
Onde comprar: Amazon
Sinopse: O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade.
Esse é só o começo...
Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir.
...mas não é o fim.
Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.
Esse é só o começo...
Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir.
...mas não é o fim.
Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.
Sobre a história
Quando começamos a leitura nos deparamos com Jean McClellan, uma famosa cientista, doutora em neurolinguística, estava pronta para concluir a pesquisa que mudaria a vida de pacientes que sofreram grandes danos na fala, quando um novo presidente assume o Estados Unidos. Junto com o presidente um novo grupo fundamentalista cristão passou a reorganizar a sociedade, retirar os direitos das mulheres e banir homossexuais. Os homens assumiram todos os cargos ocupados por mulheres, enquanto elas só poderiam cuidar da casa e da família. O direito de ler, escrever e falar foram tirados de todas. Agora elas teriam que usar um contador, uma espece de pulseira que faz a contagem de todas as palavras que elas dizem por dia. O aparelho está programado para permitir apenas 100 palavras, qualquer uma que seja dita depois disso irá causar um choque suficientemente grande para que o medo seja instaurado. Nem mesmo crianças foram poupadas. As meninas foram enviadas para escolas diferentes onde aprenderiam contas simples para usarem no dia a dia, além de cuidados domésticos e, o principal, a ficarem em silêncio.– É uma escolha, mãe – disse Steven. – Se você pode escolher uma sexualidade, pode facilmente escolher outra. É só isso que eles estão tentando fazer.
Há cerca de uma no Jean vem tentando encontrar um meio de sobreviver a essa nova realidade. Uma mulher que sempre foi independente e reconhecida por seus trabalhos, tinha a única responsabilidade de zelar pela sua casa e família. Com três filhos homens e uma menina, o medo a persegue todos os dias. Sonia, a sua filha mais nova, com cinco anos, está cada vez mais quieta. O mais velho, Steven, aos poucos está sendo manipulado pelo novo sistema e aceitando as leis que foram impostas. Enquanto seu marido, Patrick, na maioria das vezes, tenta amenizar os danos e brigas na família. Mas o que ele poderia fazer para trazer sua voz de volta? Mais do que nunca os discursos da sua melhor amiga da faculdade – Jackie – passam a fazer sentido. O que na época ela considerava um absurdo e impossível, se provou fácil de acontecer depois que o plano do novo governo foi executado. Jackie sempre acusou Jean de não lutar, de não participar dos movimentos feministas e da política. Para Jackie, Jean vivia numa bolha e só agora ela entendeu que Jackie estava certa.
Não posso odiar Steven porque ele acredita numa coisa tão errada, ainda que eu odeie aquilo que ele acredita.
Patrick é médico e trabalha no alto escalão no governo, com contato direto com o presidente. Quando o irmão do presidente sofre um grave acidente e perde a fala, a última coisa que Jean seria capaz de imaginar é que Patrick apareceria na sala de casa junto com o reverendo Carl, o conselheiro do presidente. Logo que começaram a explicar o dano no cérebro do irmão do presidente, Jean entende o motivo de estarem ali. Ela era uma das maiores especialistas em neurolinguística no país e a pesquisa que ela estava a ponto de concluir é a solução para o problema deles.
Tudo o que Jean queria é voltar ao trabalho, mesmo a oferta de tirarem o contador e o salário que irá receber é tentador, mas ela sabe que ao entregar o que eles querem tudo voltará a ser o que era. As 100 palavras estariam de volta e nada mudaria isso. Além do mais, por que ela deveria salvar um cara que é um dos responsáveis por tudo o que está acontecendo? Mas ela aceita. Jean vê nesse trabalho a oportunidade de salvar a filha e a si mesma.
De volta ao laboratório, Jean vai encontrar com Lin e Lorenzo, os amigos que estavam ao seu lado durante a pesquisa. Segredos logo virão a tona e os três precisam entender o que estarão dispostos a fazer para salvar suas vidas e resistir a um governo opressor. Tanto Jean quanto Lin e Lorenzo carregam segredos que poderiam prejudica-los e esconde-los está cada vez mais difícil.
Minha culpa começou há duas décadas, na primeira vez em que não votei, nas vezes incontáveis em que disse a Jackie que estava ocupada demais para ir a uma das suas passeatas, fazer cartazes ou ligar para meus congressistas.
O que eu achei?
Vox é um livro que traz para o leitor a política, a necessidade de todos participarem e lutarem por seus direitos, mas acima de tudo, traz a luta pelos direitos das mulheres. Assim como em “O Conto da Aia”, a história parte do ponto em que um novo governo autoritário assume o poder e tenta obrigar a população a seguir as novas leis, através de discursos certeiros e com um plano bem construído. Vox mostra ao leitor que discursos conservadores ainda representam a opinião de muitos e, quando feito por alguém capaz de convencer e usar os argumentos certos, pode mostrar que decisões cruéis são necessárias (o famoso: os fins justificam os meios).Uma coisa eu aprendi com Jackie: você não pode protestar contra o que não vê se aproximar.
A história é muito bem construída e aproxima o leitor a cada capítulo. Os personagens também são o ponto alto do livro. Acompanhar a história pelo ponto de vista da Jean mostra o lado visto como fraco pelo novo governo. É fácil encontrar na Jean traços de mulheres reais, mesmo numa história que poderia mostrar uma mulher com a vida ideal (com o emprego perfeito e uma família perfeita) sendo injustiçada por um governo autoritário. Os demais personagens também não ficam atrás.
O único ponto que eu acredito que poderia ter sido mais bem aproveitado foi o final. Não que tenha sido ruim ou mal construído, pelo contrário... só acho que poderia ter sido mais devagar. Mesmo assim, não é algo que atrapalhe a leitura ou que desaponte o leitor.
A autora não diz o tempo que a história ocorre, mas algumas descrições políticas facilmente nos leva a comparar com os dias atuais (sem spoilers, não vou citar quais descrições são). Queria falar sobre vários outros momentos em que a história me surpreendeu, mas a ação ocorre toda no meio do livro, então não há muito que contar sem soltar algum spoiler. O que eu ainda posso dizer é que esse livro traz uma história que precisa ser lida e entendida. É uma leitura que toca na ferida e nos faz lembrar que ela está ali. Acima de tudo, uma história sobre várias formas de resistir e não se deixar ser silenciado.
Muitíssimo obrigada a editora Arqueiro por trazer esse livro na hora em que mais precisamos entender que não existe nada que não possa ser tomado de nós.