Em alguns dias sinto uma imensa necessidade em relembrar algumas coisas. Não por ter sido exclusivamente boas, mas por ter sido importante para mim. De certa forma, isso me faz viver pressa às lembranças, ao passado. Ainda assim, me sinto confortável em poder relembrá-las.
Dia desses estava revendo um daqueles álbuns típicos de família. Pela época das fotos, os meus pais ainda eram casados, ainda tinha o meu cabelo extremamente cacheado e já não ficava tão emburrada quando precisa tirar alguma foto, haha.
Apesar dos sorrisos, que eram recorrentes nas fotos, era um dos períodos mais difíceis, quando tinha seis anos. Nunca me importei em falar sobre isso. Quando me perguntavam o que havia acontecido, sempre respondia com calma e com certo humor. Mas em dias em que as lembranças surgem novamente e você precisa revivê-las, me sinto ingrata e triste por não dar valor na vida que tenho.
Sempre imaginei que pessoas que tivessem enfrentado a quimioterapia deveriam valorizar a chance de estarem ali, vivas. Deveriam viver de verdade, aproveitar o que não deixa de ser uma segunda chance. Por mais que eu diga a mim mesma que eu tinha apenas seis anos, é impossível não sentir que estou desperdiçando a chance que tive de continuar próxima das pessoas que amo.
Não consigo dizer em qual momento deixei de acreditar na vida, nos sentimentos e nas pessoas. Às vezes percebo que aos poucos fui me afastando, me escondendo dos outros, por medo. Posso dizer que os últimos dez anos têm sido assim e mesmo tendo absoluta consciência do que faço, não consigo imaginar as coisas de um jeito diferente.
Acredito de todo o coração em todos os clichês que dizem que a vida deve ser aproveita ao máximo. Em todos os textos que já postei por aqui, posso assegurar que em nenhum deles você irá encontrar algo diferente disso. Todos buscam inspirar o leitor a deixar para trás os seus limites, os seus medos e seguir em frente. Talvez esse tenha sido o tema de todos os meus textos. Sempre escrevi para os outros o que eu deveria ter dito e feito por mim mesma.