
A sala era grande, um tanto vazia. O piso de madeira antiga com armários de mármore e uma mesa redonda no centro. Havia frutas por lá. Lembro-me das uvas verdades e maçãs charmosas. Não me esqueço do vinho também. Não ousei tocar em nada. Ainda estava de pijama e com os cabelos eletrocutados. Até pensei em comer, já que não tinha jantado na noite anterior. Eu tremia perto da lareira. O fogo não era suficiente para apagar as memórias de uma semana embaraçosa.
Voltei e subi para o quarto. Desde que cheguei aqui, não tinha organizado absolutamente nada. Na verdade, nem a minha mente conseguiu fazer isso. Era meio que... confuso, eu acho. Sentia saudades do silêncio. Duvidava se me ajustaria às normas da casa, ou se teria coragem para encarar aquela senhora que tricotava na varanda, lembrando-se do passado e de seus netos. O homem barbudo ficava as escondidas em um quarto misterioso.
No decorrer do tempo, percebi que a solidão acabava me chamando. Tentei tirar algumas fotografias da sacola, mas, nada restou desde que houve desapego. A ignorância tinha sequestrado a minha paciência. Era bobagem, ignorem isso. Sentei na cama e arrumei o cabelo. Respirei um ar de cansaço e cruzei os braços. A neve cobria a janela e não existia mais paisagem que dessem vida aos olhos.
Por um instante, me afastei. Mantive o pé escondido da adrenalina. Peguei um travesseiro e abracei. Imaginei os destroços escorrendo pelos olhos. Um filme passou na minha mente em alguns segundos. E de certa maneira, eu continuava lá. Me enrolava e preferia manter a fome quieta, só por mais um dia.
Matheus Carneiro.
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